terça-feira, 29 de março de 2011

Desafio de Shrek


O casamento religioso à fantasia em Garibaldi, RS, mostra bem o jeito alucinado da vida. Vestidos de Fiona e Shrek, o desejo dos noivos diante do altar expressa a síndrome humana “do fazer de conta” – que virou epidemia. Os padrinhos com roupas de príncipes e princesas, os pais dos noivos de reis e rainhas, as crianças com alegorias de Dragão, Burrinho, Branca de Neve, os convidados caracterizados dos contos infantis – uma cena surreal que diz tudo sobre esta sociedade de castelos de areia. Fiquei pensando na história dessa famosa animação, para dizer o seguinte: precisamos imitar o ogro Shrek, e expulsar as criaturas mágicas que invadem o nosso “pântano”.
Esta é a ameaça – a vida transformada numa aventura de desenho animado. De ficar adulto, mas ainda “brincar” de casinha, de carrinho, de vídeo game, de ganhar e perder. De fazer de conta que casamos, que temos família, que trabalhamos, que somos felizes. No imaginário de ser bem sucedido, vestir a alegoria de soberanos, alucinados na miragem de reinos e castelos. Sem dúvida, temos um desafio parecido com o do Shrek, de espantar as ilusões e viver a realidade.
Viver a realidade? Vale à pena? Ela é tão dura, exigente, cruel. Por que não levar a vida na brincadeira? Seria o caminho, se o dragão fosse apenas fábula. Ele existe e expele violentamente sobre nós suas labaredas. Podemos até aprisioná-lo atrás de máscaras e alegorias, mas um dia ele surge em inevitáveis tragédias. Por isto a advertência: “Viva alegre durante todos os anos da sua vida. Mas, mesmo que você viva muitos anos, lembre que ficará morto durante muito mais tempo. Tudo o que acontece é ilusão” (Eclesiastes 11.8).
Seria tudo ilusão se não fosse “a realidade de Cristo” (Colossenses 2.17). Que para alguns é também pura fantasia. Mas, uma certeza para aqueles que são chamados de igreja – que vem “de Deus, enfeitada e preparada, vestida como uma noiva que vai ser encontrar com o noivo”, para viver no reino celestial onde “não haverá mais morte, nem tristeza, nem choro, nem dor” (Apocalipse 21.1-4).
Marcos Schmidt
pastor luterano
mar...@terra.com.br
Igreja Evangélica Luterana do Brasil
Comunidade São Paulo, Novo Hamburgo, RS
31 de março de 2011